terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Braga - Divulgação do Texto do Prof. Miguel Bandeira e do Martinho de Dume sobre o Livro da Bola

Sporting Clube de Braga, 90 ou 97 anos de História?!

Há dias atrás, o Sporting Clube de Braga (SCB) comemorou oficialmente os noventa anos de existência, isto é, o aniversário formal da aprovação dos seus estatutos pelo Governo Civil. Porém, está hoje provado, que a colectividade mais representativa do desporto bracarense já praticava uns anos antes a natureza da sua principal actividade, o futebol, e incorporava outros protagonistas, para além daqueles que participaram no acto notarial. É certo que, ainda hoje, se pode questionar exactamente da data em que este foi fundado, mas há uma verdade que não pode ser escamoteada, a certeza do clube ter oficialmente comemorado a sua fundação a partir do ano de 1919, e isto, sublinhe-se, pelo menos, três vezes! (1934/35/36), conforme o atesta diversa documentação publicada e que está ao acesso de todos.

Todavia, e muito mais interessante do que discutir a oportunidade das comemorações, apraz-nos antes, e este é o motivo do nosso texto, apresentar e comentar o mais recente trabalho dado à estampa, para a História do desporto em Braga, “A HISTÓRIA DA ‘BOLA’ EM BRAGA – 1908-1947: como o jovem Sporting se tornou no respeitável Senhor de Braga”, dos autores, Evandro Lopes e João Nogueira Dias, associados a uma equipa mais alargada de colaboradores e apoiantes, que faz, desde logo esta edição num caso original e interessante de iniciativa no nosso município. Diga-se que são trabalhos como estes que perduram no tempo e fazem a História, já que os eventos de circunstância são apenas efémeros, desvanecendo-se rapidamente da recordação dos homens.

Saída da espontaneidade dos afectos votados às memórias da cidade, particularmente àquelas que se reportam às origens da prática desportiva em Braga, e à sua constante indagação, os autores deste trabalho presenteiam-nos com um notável, quanto útil, trabalho de pesquisa, que passa a constituir um contributo de divulgação inestimável, sobretudo, para o capítulo da História do desporto e do associativismo locais. O trabalho de investigação, que resulta de vários anos de recolhas e consultas, junta um abundante património iconográfico e fotográfico que associa a diversos fac-similes, particularmente, recortes de imprensa coeva (vid fototeca). Contudo, não se fica por aí, já que nele são compulsadas notícias sobre o advento de mais modalidades desportivas, como o boxe, o ciclismo, o atletismo, basquetebol e outras, ou ainda se nomeiam alguns dos principais actores dessas aventuras. Daí emergem também pequenas histórias de pioneirismo: como a aquisição da primeira bola e dos seus fados, enfim; os primeiros jogos e equipas; as rivalidades; contam-se até algumas das curiosidades hoje estranhas ao mundo do futebol.

Ainda assim, um dos interessantes contributos desta “História da Bola…” assenta igualmente no importante recurso dado aos documentos privados e aos acervos memoriais de família, gentilmente postos à disposição da investigação (um exemplo a seguir). Disso são prova as referências feitas a Celestino Lobo (1900-1974), esse incontornável dirigente do SCB (que nunca foi presidente!) e organizador do futebol minhoto (fundador da Associação de Futebol de Braga), sem o qual não é hoje possível compreender a história desta modalidade na cidade e região.

Neste livro reflecte-se também toda a preocupação exaustiva de reconstituir e de identificar os principais lugares da acção (recintos desportivos, as sedes, os locais dos acontecimentos, etc.), bem ainda, como de expor a dramaticidade emotiva das figuras, na divulgação dos nomes e dos rostos dos precursores do sport em Braga. Se é verdade que o ordenamento e estrutura da publicação revelam um processo em construção, que merece, em futuras edições ou no prosseguimento desejável dos trabalhos de investigação, a atribuição de uma maior importância à referência/identificação de fontes, estimulando assim o debate das questões que são apresentadas, os autores revelam grande rigor e honestidade intelectual no modo como foram incorporando as novidades com que se depararam. Tal é o exemplo do empolgante caso da referenciação do ano de 1914 como possibilidade de constituir uma nova data de fundação do Sporting Clube de Braga.

Os autores, tendo-se defrontado já na pós-produção da edição com a “descoberta” do anúncio dos corpos gerentes do “novo Club” – “Sporting Club de Braga”, no matutino “Echos do Minho”, de 16 de Setembro de 1914 (Terça-Feira), tiveram a probidade intelectual de o divulgar, independentemente das conveniências, assumindo tratar-se de uma proposta interessante de trabalho que vale a pena investigar e reflectir. Também nós assim o achamos.

Abriríamos aqui um parêntesis, sem mais delongas, comentando somente, e como alvitre para o enriquecimento do debate, que faz todo o sentido, por agora, começar a admitir a indexação da fundação do SCB a estes 13 cidadãos e ao ano de 1914 que agora nos é revelado. Desde logo porque então, a espontaneidade e a informalidade da prática desportiva nos seus primórdios estava desvinculada de qualquer regulamentação ou estruturação federativa, mesmo até, de normativização civil rígida ou específica. Os clubes viviam ao sabor do voluntarismo e da “carolice”, pelo que viriam a ser precisamente os clubes as primeiras estruturas associativas a dar consistência à organização da modalidade. Por outro lado, nesse mesmo período de afirmação republicana, a relação entre o desporto e a vida militar eram praticamente indeslindáveis, aliás, como o livro vem confirmar, pelo que a movimentação própria de um exército que se preparava para entrar em conflito armado, a incorporação/mobilidade dos jovens praticantes, etc., tudo converge no sentido de poder ser identificada essa como a principal razão que justifica o hiato verificado na vida desportiva da cidade até ao final da década. Isto é, a rarefacção da vida social, sobretudo, juvenil, ficou, certamente, a dever-se tanto à participação de Portugal na I Grande Guerra, como, se pode acrescentar, aos efeitos nefastos da gripe pneumónica (1918), que também fustigou o país e a cidade. Por outro lado, não deixa de ser curioso que o nome do SCB, ao reaparecer em 1919 em simultâneo com o retomar da vida desportiva e lúdica em geral, no mínimo, poder-se-ia dizer, sugere a permanência de um referente, quiçá, a organização de uma II série do emblema bracarense, pelo que faz todo o sentido admitir uma continuidade conectiva entre ambas as denominações, tanto mais, que existiram outros clubes com diferentes nomes, e que depois da guerra e da devastação epidémica pura e simplesmente não reapareceram.

História é uma área do saber apaixonante que se inscreve nos domínios do conhecimento humano mais antigos e fundamentais que à humanidade é dado perscrutar e divulgar. Dela depende directamente o sentido de identidade de coesão de uma sociedade, como pode ser uma cidade. A História busca sempre a verdade dos factos, sendo que não deve sujeitar-se à conveniência das circunstâncias. O que determina o trajecto da investigação histórica é a rectidão, a humildade das hipóteses e o permanente questionamento dos factos circunstancialmente verdadeiros.

O caso da indagação da idade do Sporting Clube de Braga pode bem ser um exemplo didáctico do modo como olhamos os tempos que vivemos. Ela será o pretexto e, simultaneamente, o testemunho de uma busca pela verdade e rectidão dos factos que vale a pena investir. Isto é, o que distingue a História das circunstâncias, aquilo que é passageiro e o que daqui a uns anos já ninguém se irá lembrar, da verdade que, pode demorar algo, mas que, passe o tempo que passar, virá sempre ao de cima.

A História de uma instituição representativa de uma cidade como é o Sporting Clube de Braga não é propriedade de ninguém, muito menos de uma geração, mesmo até somente dos seus associados ou dos seus dirigentes de circunstância, sendo que o valor identitário de um clube como o SCB, está precisamente no modo como se estabelece a ligação entre o rasto das suas diversas memórias e dos seus afectos, com uma visão de futuro. E umas não existem sem as outras. O que faz prorrogar e ampliar a grandeza das instituições não são os meros resultados do momento, mas sim o consenso que une e identifica todos aqueles que ajudaram a construir o seu projecto. Um clube, ou o quer que seja, sem memória, ou que não saiba fazer ou cuidar do seu passado, adivinha-se que não tem grande futuro. Muitas vezes a verdade pode ser desoportuna ou incómoda, mas reaparece sempre vibrante, por mais que a queiram negar ou ignorar. Essa é uma das missões da História. Esse é o contributo que o presente livro dá a essa busca. Convido-vos pois a lê-lo.
Miguel Melo Bandeira

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Exmos. Srs.,
A propósito de um notável artigo da autoria do Prof. Miguel Bandeira e a da edição de um livro em Braga no passado mês de Dezembro, que singelamente pretendeu contar aos bracarenses a sua história dos primórdios da actividade desportiva nesta cidade e que pelos vistos despertou por aí um silêncio ensurdecedor.
O artigo referido, praticamente deixou tudo dito sobre a obra e os seus autores, mas, e pelos vistos há sempre uns mas, como sou um indígena e não um pára-quedista, como muitos que por aí campeiam, algumas coisas acho que estão a ser necessárias aclarar.
Assim sendo, aí vaí:
Não entendo a animosidade com que o livro foi recebido pelas entidades a quem os autores fizeram um grande favor, por, pela primeira vez alguém ter investigado até ao tutano a história da cidade pela vertente da bola (esta animosidade é silenciosa, por, pelo menos um dos autores, que conheço bem, se encabritasse era capaz de dar tsunami).
Também não entendo a C.S. de Braga e dos Jornais desportivos nacionais, não terem ido ouvir a opinião de Barros Pereira?, até agora o único autor de livros sobre esta matéria. Não ouviram a opinião da Direcção do S.C.B, nem tão pouco no dia que a colectividade festejou o tal dia 19 de Janeiro (dia considerado de aniversário e que foi o fadista Teixeira Pinto que o inventou, vai para aí uns 20 anos).
Também não quiseram saber da encomenda do livro, que o Braga fez à jornalista Matilde e o investigador Pires de Oliveira. Livro que seria para festejar exactamente esses 90 anos e que lhes teria sido feita a encomenda pelos então Vices Presidentes Miguel Machado e Arq. Fernando Jorge.
Concluindo, nesta terra, quem fizer o que quer que seja fora das capelanias é levado à ostracização, neste caso a coisa não funciona por os autores serem daqueles que o povo diz, são de c***ão preto.
Sem, mais
Martinho de Dume

1 comentário:

  1. Ainda a propósito do artigo do Prof Bandeira, sobre o livro da bola
    Exmos. Srs.,
    A propósito de um notável artigo da autoria do Prof. Miguel Bandeira e a da edição de um livro em Braga no passado mês de Dezembro, que singelamente pretendeu contar aos bracarenses a sua história dos primórdios da actividade desportiva nesta cidade e que pelos vistos despertou por aí um silêncio ensurdecedor.
    O artigo referido, praticamente deixou tudo dito sobre a obra e os seus autores, mas, e pelos vistos há sempre uns mas, como sou um indígena e não um pára-quedista, como muitos que por aí campeiam, algumas coisas acho que estão a ser necessárias aclarar.
    Assim sendo, aí vaí:
    Não entendo a animosidade com que o livro foi recebido pelas entidades a quem os autores fizeram um grande favor, por, pela primeira vez alguém ter investigado até ao tutano a história da cidade pela vertente da bola (esta animosidade é silenciosa, por, pelo menos um dos autores, que conheço bem, se encabritasse era capaz de dar tsunami).
    Também não entendo a C.S. de Braga e dos Jornais desportivos nacionais, não terem ido ouvir a opinião de Barros Pereira?, até agora o único autor de livros sobre esta matéria. Não ouviram a opinião da Direcção do S.C.B, nem tão pouco no dia que a colectividade festejou o tal dia 19 de Janeiro (dia considerado de aniversário e que foi o fadista Teixeira Pinto que o inventou, vai para aí uns 20 anos).
    Também não quiseram saber da encomenda do livro, que o Braga fez à jornalista Matilde e o investigador Pires de Oliveira. Livro que seria para festejar exactamente esses 90 anos e que lhes teria sido feita a encomenda pelos então Vices Presidentes Miguel Machado e Arq. Fernando Jorge.
    Concluindo, nesta terra, quem fizer o que quer que seja fora das capelanias é levado à ostracização, neste caso a coisa não funciona por os autores serem daqueles que o povo diz, são de c***ão preto.
    Sem, mais
    Martinho de Dume

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