quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Braga - Despacho de A. Pereira; "General da Força Aérea arrasa Ministro da Defesa

General da Força Aérea arrasa Ministro da Defesa

Ex..º Sr. General Chefe do Gabinete de S. Ex.ª o Ministro da Defesa
Nacional, Caro camarada:
Apresento a V. Ex.ª os meus cumprimentos.
Tomo a liberdade de me dirigir a V. Ex.ª para lhe solicitar que transmita a
S. Ex.ª o Sr. Ministro a minha indignação relativamente à forma pouco
respeitosa e mesmo insultuosa como se referiu às Forças Armadas, aos
militares e às suas Associações representativas, no passado dia 1 de
Fevereiro. De todos os governantes, o Ministro da tutela era o último que
deveria proferir palavras dessa estirpe.
Sou Tenente-General Piloto-Aviador na situação de Reforma, cumpri 41 anos de
serviço efectivo e possuo três medalhas de Serviços Distintos (uma delas com
palma), duas medalhas de Mérito Militar (1.ª e 2.ª
classe) e a medalha de ouro de Comportamento Exemplar. Servi o meu País o
melhor que pude e soube, com lealdade e com vocação, sentimentos que S. Ex.ª
não hesita em por levianamente em causa.
Presentemente, faço parte com muito orgulho, do Conselho Deontológico da
Associação de Oficiais das Forças Armadas.
Diz o Sr. Ministro que “a solução está em todos nós. Em cada um de nós”. Não
é verdade! A solução está única e exclusivamente na substituição da classe
política incompetente que nos tem governado (?) nos últimos 25 anos, e que
nos tem levado, de vitória em vitória, até à derrota final! Os comuns
cidadãos deste País, nomeadamente os militares, não têm qualquer
responsabilidade neste descalabro. Como disse o Sr. Coronel Vasco Lourenço
no seu livro, “os militares de Abril fizeram uma coisa muito bonita, mas os
políticos encarregaram-se de a estragar…”
Diz também S. Ex.ª que as Forças Armadas estão a ser repensadas e
reorganizadas. Ora, se existe algo que num País não pode ser repensado nem
modificado quando dá jeito ou à mercê de conjunturas desfavoráveis, são as
Forças Armadas, porque serão elas, as mesmas que a classe política vem
sistematicamente vilipendiando e ultrajando, a única e última Instituição
que defenderá o Estado da desintegração.
Fala o Sr. Ministro de algum descontentamento protagonizado por parte de
alguns movimentos associativos. Se S. Ex.ª está convencido que o
descontentamento de que fala se limita a “alguns movimentos associativos”,
está a cometer um erro de análise muito sério e perigoso, e demonstra o
desconhecimento completo do sentir dos homens e mulheres de que é o
responsável político. Este descontentamento, que é geral, não tenha dúvida,
tem vindo a ser gerado pela incompetência, sobranceria, despudor e, até,
ilegalidade com que sucessivos governos têm vindo a tratar as Forças
Armadas. É a reacção mais que natural de décadas de desconsiderações e de
desprezo por quem (é importante relembrar isto) vos deu de mão beijada a
possibilidade de governar este País democraticamente!
As Forças Armadas não querem fazer política! Não queiram os políticos,
principalmente os mais responsáveis, “ensinar” aos militares o que é
vocação, lealdade, verticalidade e sentido do dever. Mesmo que queiram, não
podem fazê-lo, porque não possuem, nem a estatura nem o exemplo necessários
para tal.
Quem tem vindo a tentar sistematicamente destruir a vocação e os pilares das
Forças Armadas, como o Regulamento de Disciplina Militar, destroçado e
adulterado pelo governo anterior? Quem elaborou as leis do Associativismo
Militar, para depois não hesitar em ir contra o que lá se estabelece? Quem
tem vindo a fazer o “impossível” para transformar os militares em meros
funcionários do Estado? Apesar disso, tem alguma missão, qualquer que ela
seja, ficado por cumprir?
Fala S. Ex.ª de falta de vocação baseado em que factos? Não aceita S.
Ex.ª o “delito de opinião”?
Não são seguramente os militares que estão no sítio errado!
Por tudo o que atrás deixei escrito, sinto-me profundamente ofendido pelas
palavras do Sr. Ministro.
Com respeitosos cumprimentos de camaradagem
EDUARDO EUGÉNIO SILVESTRE DOS SANTOS
Tenente-General Piloto-Aviador (Ref.) 000229-B
P.S. – Informo V. Ex.ª que tenho a intenção de tornar público este texto.

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