URGÊNCIAS HOSPITALARES
Casimiro Canhoto
Farricoco,
Apercebo-me que a discussão a respeito das urgências hospitalares é um dos pratos fortes do teu blog nos últimos tempos.
A minha visão, enquanto indivíduo cujas habilitações literárias se confinam à quarta classe e ao nono ano feito nas novas oportunidades, é algo redutora mas de simples explanação.
Há duas realidades incontornáveis no que diz respeito a urgências e idas aos hospitais. O cidadão comum apercebe-se facilmente delas, exceptuando aqueles que, com tantas lojas de óptica espalhadas por esta cidade, teimam em ir comprar os óculos ao n.º 133 da rua dos Chãos.
A primeira evidência é: há pessoas que vão à urgência porque estão com gripe, ou porque passaram a noite de volta da casa de banho com uma valente caganeira, ou porque lhes doí um dedo do pé, ou porque lhes doí a alma motivada por uma zanga com a pessoa por quem têm uma relação afectiva. Ou seja, muito boa gente dirige-se às urgências do hospital quando os seus casos não são, realmente, urgentes.
E depois admiram-se porque lhes dão pulseiras amarelas ou verdes, que na prática significa que se estão a cagar para eles e mais lhes vale irem para casa.
Depois aliado a isto, há o problema do mau funcionamento do próprio hospital, que provoca saturação, não só aos seus utentes, como também aos seus profissionais. Consequência: um caso que até pode ser urgente corre o risco de ser considerado menos urgente, por conta de tanta malta que lá aparece por tudo e por nada. É como aquela historinha do Pedro, o rapaz que para quebrar a sua monotonia nos pastos gritava: "lobo, lobo, lobo". Até que um dia o lobo veio mesmo, ele gritou e não houve depois ninguém que o fosse acudir.
A segunda grande evidência vem no seguimento do despacho da rua do Orfeão. É que mais uma vez estamos perante situações de discriminação racial. Isto porque quando acorrem à urgência indivíduos de determinada etnia, são tratados com prioridade. Sem precisarem de pulseira ou sequer de triagem. Geralmente, fazem-se acompanhar por dezenas de outros indivíduos da mesma etnia, familiares e não só. Uns acampam à porta e outros desatam aos pontapés à porta, ameaçando os vigilantes, profissionais de saúde e pessoal administrativo com atentados à integridade física, se não forem satisfeitas as suas pretensões.
Esta é a minha perspectiva e, volto a frisar, condicionada à minha visão redutora da coisa. Outros poderão ter uma opinião mais bem fundamentada e, "quiçás", mais correcta e assertiva.
Feliz daquele que vive a vidinha com saúde e que quando lhe dá a "macacoa", vai depressa desta para melhor e sem sofrer.
Abraço,
Miro

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