Braga - Despacho do C. Miguel; "Velha mas feliz!"

Velha mas feliz!

Eu nunca trocaria meus amigos, minha vida, minha família por menos uns cabelos brancos ou uma barriga mais lisa. Enquanto vou envelhecendo tornei-me mais amável para mim e menos crítica de mim mesma. Eu me tornei minha amiga. Não me censuro por comer biscoitos a mais ou por não fazer a minha cama. Ou porque comprei algo bobo que não precisava. Eu tenho o direito de ser desarrumada, "esquisitinha", mais exigente e até meio imprevisível de humores...

Vi muitos amigos queridos deixarem este mundo cedo demais e antes de poderem compreender a grande liberdade que vem com o envelhecimento.

Quem vai me censurar se resolvo ficar lendo ou jogando no computador até às quatro da manhã e dormir até meio-dia? Eu gosto é de dançar ao som daqueles sucessos maravilhosos dos anos 60 e 70 e chorar por um amor perdido ...

Vou andar na praia em um maiô excessivamente esticado sobre um corpo decadente e mergulhar nas ondas com abandono, se eu quiser, apesar dos olhares penalizados dos elegantes! Eles também vão envelhecer...

Eu sei que às vezes sou esquecida. Mas há algumas coisas na vida que devem ser esquecidas. Eu me recordo mais das coisas importantes.

Claro que, ao longo dos anos, meu coração foi quebrado. Como não quebrar o coração quando você perde um ente querido, quando uma criança sofre ou mesmo quando um amado animal de estimação é atropelado por um carro? Mas corações partidos são os que nos dão força, compreensão e compaixão. Um coração que nunca sofreu é imaculado demais e estéril: nunca conhecerá a alegria de ser imperfeito.

Sinto-me abençoada por ter vivido o suficiente para ter meus cabelos grisalhos e ter os risos da juventude gravados para sempre nas rugas do meu rosto. Muitos nunca riram e muitos já morreram antes de seus cabelos virarem prata. Conforme você envelhece é mais fácil ser positivo. Você se preocupa menos com o que os outros pensam. Eu não me questiono mais. Já ganhei o direito de estar errada, de me enganar. Envelhecer é um privilégio e nos permite muita coisa. Os mais jovens têm de compreender isso.

Apreciar (e aceitar) o envelhecimento é a maneira mais inteligente de lidar com a inevitável passagem do tempo. A outra alternativa é preferir morrer mais jovem e ainda gostosa... Você quer??

Assim, eu já estou gostando de ser velha. A "velhice" me libertou. Gosto da pessoa em que me tornei. Infelizmente, não vou viver para sempre (ah, como eu queria!). Mas, enquanto ainda estou aqui, não vou perder mais tempo lamentando o que poderia ter sido ou me preocupar demais com o que será. E vou comer sem culpa uma sobremesa todos os dias, se me apetecer!