sábado, 14 de julho de 2012

Braga - Despacho de Amélia J; "As Novas Oportunidades vs Licenciaturas e Douturamentos AD-HOC" Disto, fala quem sabe

Não deixem as politicas de educação ao serviço dos Xicos Espertos



A educação e formação de adultos vive hoje, em todo o mundo, a emergência de um novo paradigma teórico e metodológico. O aprendente, adulto, é hoje valorizado pela sua relação com o sistema, ou seja, com o corpo social que o liga à vida, fazendo jus ao que há muito se diz: “Que a vida é uma escola”.

O reconhecimento de competências adquiridas ao longo da vida pressupõe que no decorrer do percurso pessoal, profissional e social, em contextos formais, não formais ou informais, o individuo adquire competências e por isso, a dado momento da sua vida as habilitações escolares certificadas não correspondem aos conhecimentos, saberes e competências que efetivamente possui.

O Programa Novas Oportunidades surge em Portugal como uma política de igualdade de oportunidades que tinha como objetivo dar uma nova oportunidade aqueles que precocemente tinham abandonado a escola para ingressar no mercado de trabalho, mas nem por isso tinham deixado de aprender em diferentes contextos. Para tal, os adultos menos qualificados podiam dirigir-se a um Centro Novas Oportunidades, onde encontravam uma equipa técnico pedagógica que o orientava, para que através de um portefólio reflexivo de aprendizagens, o adulto identificasse, estruturasse e refletisse, de forma a efetuar uma transferência das aprendizagens, das capacidades e das estratégias adquiridas através da experiencia.

Importa salientar que as competências adquiridas pela experiencia, na maioria das vezes não estão ali, depositadas no adulto e prontas a ser certificadas. O reconhecimento de adquiridos é um processo de elaboração e de construção de saberes que emergem de um processo reflexivo, introspetivo, de tomada de consciência, LERBET dizia que a denominação mais correta seria “reconhecimento do construído”.

Após a “duro” processo de pensar e repensar as experiencia de vida e as aprendizagens dai recorrentes estas são confrontadas com um referencial de competências chave que posiciona o adulto num determinado nível de qualificação, que lhe permite delinear um novo percurso de qualificação e que por isso é um novo impulso no processo de aprendizagem ao longo da vida. Numa fase final este portefólio é analisado por um olhar externo ao Centro Novas Oportunidades, um avaliador externo, devidamente acreditado pelo Ministério da Educação, que analisa o portefólio e verifica se este detém as competências necessárias para a certificação do adulto. Por fim, este é ainda sujeito a uma sessão de júri, aberta ao publico, onde oralmente expõe a sua experiencia de vida e evidencia algumas das competências que lhe foram validadas em sede de portefólio.

È aqui que me irrita a colagem do programa novas oportunidades ao caso do ministro Miguel Relvas.

A universidade Lusófona, tal como outras universidades, atenta aos novos paradigmas da educação, protagonizados também pelo processo de Bolonha, criou um regime de reconhecimento de adquiridos experiencias, que permitissem posicionar os indivíduos num determinado nível de aprendizagem. Contudo, este processo não é claro, não é transparente e não parece acessível a todos. Não existe regulamento, não existe nem referencial, nem a explicação dos critérios de avaliação. O individuo não é convidado a refletir sobre as suas aprendizagens, não evidencia de forma nenhuma as competências adquiridas por via da experiencia. Apenas apresenta um currículo, onde enumera uma serie de funções e experiencias profissionais, que podem ser verídicas ou não. Ninguém sabe, ou ninguém procura saber.

O grande mérito destas medidas seria o de conseguir combater o preconceito de que o ensino formal é o único meio de aprendizagem legítimo e consequentemente, passível de certificação. O grande desmérito é a sua massificação e a ideia politica de que através de um programa de reconhecimento de competências podemos combater o problema das baixas qualificações dos nossos recursos humanos.

O processo de reconhecimento de competências deveria servir para posicionar os indivíduos adultos num determinado percurso formativo e não estar ao serviço dos Xicos Espertos, que rapidamente manipulam o sistema para obter um certificado.

Já em 2008 António Nevoa, reitor da universidade de Lisboa, alertava para os riscos do facilitismo e da falta de rigor nestes programas. “uma abertura excessiva, sem as devidas precauções, pode provocar a depreciação do valor social dos diplomas, prometendo aos menos qualificados a recompensa de um diploma que, no momento em que é alcançado, já é de pouca valia”.


Assinado: Amélia J

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