Não deixem as politicas de educação ao serviço dos Xicos Espertos
A educação e formação de adultos vive hoje, em
todo o mundo, a emergência de um novo paradigma teórico e metodológico. O
aprendente, adulto, é hoje valorizado pela sua relação com o sistema, ou seja,
com o corpo social que o liga à vida, fazendo jus ao que há muito se diz: “Que a
vida é uma escola”.
O reconhecimento de competências adquiridas ao
longo da vida pressupõe que no decorrer do percurso pessoal, profissional e
social, em contextos formais, não formais ou informais, o individuo adquire
competências e por isso, a dado momento da sua vida as habilitações escolares
certificadas não correspondem aos conhecimentos, saberes e competências que
efetivamente possui.
O Programa Novas Oportunidades surge em Portugal
como uma política de igualdade de oportunidades que tinha como objetivo dar uma
nova oportunidade aqueles que precocemente tinham abandonado a escola para
ingressar no mercado de trabalho, mas nem por isso tinham deixado de aprender em
diferentes contextos. Para tal, os adultos menos qualificados podiam dirigir-se
a um Centro Novas Oportunidades, onde encontravam uma equipa técnico pedagógica
que o orientava, para que através de um portefólio reflexivo de aprendizagens, o
adulto identificasse, estruturasse e refletisse, de forma a efetuar uma
transferência das aprendizagens, das capacidades e das estratégias adquiridas
através da experiencia.
Importa salientar que as competências adquiridas
pela experiencia, na maioria das vezes não estão ali, depositadas no adulto e
prontas a ser certificadas. O reconhecimento de adquiridos é um processo de
elaboração e de construção de saberes que emergem de um processo reflexivo,
introspetivo, de tomada de consciência, LERBET dizia que a denominação mais
correta seria “reconhecimento do construído”.
Após a “duro” processo de pensar e repensar as
experiencia de vida e as aprendizagens dai recorrentes estas são confrontadas
com um referencial de competências chave que posiciona o adulto num determinado
nível de qualificação, que lhe permite delinear um novo percurso de qualificação
e que por isso é um novo impulso no processo de aprendizagem ao longo da vida.
Numa fase final este portefólio é analisado por um olhar externo ao Centro Novas
Oportunidades, um avaliador externo, devidamente acreditado pelo Ministério da
Educação, que analisa o portefólio e verifica se este detém as competências
necessárias para a certificação do adulto. Por fim, este é ainda sujeito a uma
sessão de júri, aberta ao publico, onde oralmente expõe a sua experiencia de
vida e evidencia algumas das competências que lhe foram validadas em sede de
portefólio.
È aqui que me irrita a colagem do programa novas
oportunidades ao caso do ministro Miguel Relvas.
A universidade Lusófona, tal como outras
universidades, atenta aos novos paradigmas da educação, protagonizados também
pelo processo de Bolonha, criou um regime de reconhecimento de adquiridos
experiencias, que permitissem posicionar os indivíduos num determinado nível de
aprendizagem. Contudo, este processo não é claro, não é transparente e não
parece acessível a todos. Não existe regulamento, não existe nem referencial,
nem a explicação dos critérios de avaliação. O individuo não é convidado a
refletir sobre as suas aprendizagens, não evidencia de forma nenhuma as
competências adquiridas por via da experiencia. Apenas apresenta um currículo,
onde enumera uma serie de funções e experiencias profissionais, que podem ser
verídicas ou não. Ninguém sabe, ou ninguém procura saber.
O grande mérito destas medidas seria o de
conseguir combater o preconceito de que o ensino formal é o único meio de
aprendizagem legítimo e consequentemente, passível de certificação. O grande
desmérito é a sua massificação e a ideia politica de que através de um programa
de reconhecimento de competências podemos combater o problema das baixas
qualificações dos nossos recursos humanos.
O processo de reconhecimento de competências
deveria servir para posicionar os indivíduos adultos num determinado percurso
formativo e não estar ao serviço dos Xicos Espertos, que rapidamente manipulam o
sistema para obter um certificado.
Já em 2008 António Nevoa, reitor da universidade
de Lisboa, alertava para os riscos do facilitismo e da falta de rigor nestes
programas. “uma abertura excessiva, sem as devidas precauções, pode provocar a
depreciação do valor social dos diplomas, prometendo aos menos qualificados a
recompensa de um diploma que, no momento em que é alcançado, já é de pouca
valia”.
Assinado: Amélia J
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